segunda-feira, abril 30, 2007

As Crianças


Olham os poetas as crianças das vielas

mas não pedem cançonetas mas não pedem baladas

o que elas pedem é que gritemos por elas

as crianças sem livros

sem ternura

sem janelas

as crianças dos versos

que são como pedradas.

Sidónio Muralhain
Os Olhos das Crianças
1963



"Se Hoje fosse Domingo"

"(...) Devo dizer-te que nunca suspeitei de nada. Agora que olho para trás e tento compreender, tenho a certeza que nunca deixaste nenhum sinal, um indício qualquer, um simples olhar, qualquer coisa que me fizesse pensar. Insisto que te via todos os dias, excepto aos domingos.(...) Já não somos crianças, como sabes não foste a primeira, mas ainda te hoje repito que só a ti amei a sério. Porque razão fingiste até ao último momento? Porque motivo corrias para mim (...)com o sorriso que sempre adorei?
Não sei se quero recordar, embora tenha a certeza que nunca esquecerei. Também deves lembrar-te. (...) Quando fui ao vosso encontro, só queria não ver o que estava certo de encontrar, tu a curtir com um gajo qualquer (...).
Não houve ralhos nem zangas, gritos ou cenas foleiras. Tudo acabou com a tua frieza e o teu olhar distante, já não gostavas de mim, pronto.
Oh, como fiquei cansado! Como desejei morrer naquele instante, como senti o mundo a desfazer-se à minha volta! Quero que saibas que a raiva tomou conta de mim por breves instantes, envergonho-me mas digo-te: apeteceu-me que morresses comigo, se não eras minha não poderias ser de mais ninguém.
Depois uma estranha calma tomou conta de mim. (...)
O tempo ajuda, podes crer. Hoje é sábado sinto saudades do teu corpo. Amanhã não te vou ver, mas não faz mal, nunca te veria. O que me custa é ter que dar explicações aos meus pais, nunca poderão perceber como te amei. Os pais pensam sempre que são namoricos sem importância, não entendem como a minha vida era feita a pensar em ti. Vê lá o meu pai até disse que não há falta de mulheres! Se calhar ainda não percebeu nada...
Se hoje fosse domingo, ia à tua procura. parava a mota à esquina do restaurante e ficava a ver-te, tenho a certeza que continuas a sentar-te naquela espécie de montra. de frente para a estátua. Amanhã, olha em frente: devo estar lá, vê com cuidado, conheces-me bem, sou mesmo eu."

Daniel Sampaio in Se hoje fosse domigo - Público

terça-feira, abril 10, 2007

eternamente tu

“o tempo não sabe nada
o tempo não tem razão
o tempo nunca existiu
é da nossa invenção
se abandonarmos as horas
para nos sentirmos sós
meu amor o tempo somos nós
o espaço tem o volume da imaginação
além do nosso horizonte
existe outra dimensão
o espaço foi construído
sem princípio nem fim
meu amor tu cabes dentro de mim
o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes
para quem se quer encontrar
a nossa história começa
na total escuridão
onde o mistério ultrapassa
a nossa compreensão
a nossa história é o esforço
para alcançar a luz
meu amor o impossível seduz
o meu tesouro és tu
eternamente tu
não há passos divergentes
para quem se quer encontrar”
Jorge Palma

...

O mar bate na areia, naquela carícia suave que tantas pessoas já descreveram… resulta numa nuvem branca de espuma, de sal, de areia…. De mar…

O mar faz ondas,…, aquelas ondas que no verão nos dão gozo ao saltar… bate na rocha, bate no vento… bate e rebenta onde toca…

Sentada na areia olhava para além das ondas, para além do pôr do sol… há horas que o mar batia sem descanso na arei, há horas que ela olhava para aquele mar, sem descanso….

Ao longe o sol já não se via, ao longe o mar já não se via, ao longe,…, ninguém a via…

Nós

"Nós somos a forma bonita, completa, de se cantar
Nós somos a voz e a palavra que nunca vão acabar
Cantando e amando vivendo
Com toda a vontade que é possível ter
Nós somos a forma bonita, completa, de se viver

Nós somos o ser extravasado que o nosso sentir nos dá
O mito complexificado em busca do que não há
Cantando e amando e vivendo
Com toda a verdade que é possível ter
Nós somos a forma bonita, completa, de se viver

E eu canto e eu quero o que eu canto
Eu preciso de cantar para encher essa forma
Eu sou o que eu canto
É na voz que eu rebento de mim
Alguém completado na vida
Prolongado na morte que já ninguém tem
A partir do momento em que a forma bonita
Se encheu de uma essência qualquer de ser

Nós somos a dor mais profunda que existe em todo o planeta
Mas somos também a alegria melhor que se inventa
Se alguém perguntar afinal
O que é que nós somos de tão lindo assim
A resposta é tão simples
Basta olhar pra vocês e pra mim "

Mafalda Veiga

Livro

Não me recordo de falar em livros no blog, também os livros que leio, provavelmente não interessam a ninguém, mas hoje apeteceu-me vi um título de um livro que me pareceu sugestivo, sim porque eu compro os livros com base no título.

… “Amor Liquido”, não li o livro, mas a “liquidez” saltou-me à vista e segundo consta fala acerca da misteriosa fragilidade dos laços humanos, os sentimentos que esta fragilidade inspira e a contraditória necessidade de criar laços e, ao mesmo tempo, de os manter flexíveis.

De volta

Como quem regressa de umas longas férias e encontra a casa cheia de pó, também eu regresso ao meu canto… ao meu espaço…

Pouco a pouco para tirar as teias de aranha acumuladas, limpando o pó de cada recanto, volto à carga com mais coisas estúpidas algumas, outras nem tanto…